"É preciso planejamento contra as chuvas", por Agostinho Guerreiro, presidente do CREA-RJ

O homem é altamente adaptável. A ocupação maciça do planeta pode ter nos dado a impressão de que dominamos a natureza. Ledo engano. Quanto mais interferimos nos ciclos naturais do ecossistema, mais sofremos as consequências. E uma demonstração clara é o estado de calamidade do qual ainda se recuperam regiões do País, sendo o Sul e o Sudeste os mais castigados em consequência das chuvas deste verão.

Desabamentos, enchentes, pessoas soterradas, desabrigadas, perdas materiais e de vidas. A tragédia pode ser evitada, ou ao menos amenizada, caso as autoridades dessem mais atenção à prevenção, evitando o desgaste de atuar apenas em obras emergenciais, após o estrago.

Em períodos de estiagem e tempo bom, como agora no Rio, o assunto perde força nos noticiários, mas não podemos deixá-lo de lado. No caso do estado, repleto de baixadas, morros e montanhas, o monitoramento constante das encostas é dever de casa.

Aos fatores climáticos e ambientais se somam os que surgem da falta de planejamento urbano, como a ocupação de áreas de preservação ambiental ou inseguras. É preciso que o planejamento leve em consideração as condições geológicas. Essas ações, em conjunto com política habitacional, ajudaria milhares de famílias a saírem de áreas de risco.

Estabelecer uma cultura preventiva significa não apenas trabalhar para evitar tragédias, mas também articulação dos diversos níveis de governo responsáveis pelo bem-estar da população.

Uma política séria de proteção das encostas só terá prosseguimento caso haja vontade política e esforço conjunto. E ela pode começar, por exemplo, por mais investimentos na contenção das encostas e na contratação de pessoal especializado para tal tarefa, fortalecendo e ampliando organizações como a Geo-Rio.

Publicado no Jornal O Dia On Line, Conexão Leitor, em 25/02/2010.